Em junho de 2015, antes de sair para uma reunião, dei uma habitual checada no Facebook para ver os temas do dia e me deparei com uma notícia falando que a “internet tinha reagido mal a uma campanha estrelada pela Preta Gil. Como não tinha tempo de clicar no link da matéria, fechei o computador e pensei: “agora tudo que ela faz vira polêmica!”. O pensamento foi porque, menos de um mês antes, a festa de casamento da artista também foi alvo de críticas.
Acontece que à noite, ao chegar em casa após a tal reunião, fui checar novamente as redes. Eis que vejo um post de um influenciador, professor de marketing digital, comentando sobre a Preta Gil. Pensei: “shiii, a coisa é séria. Essa pessoa não postaria uma informação sobre um tema deste sem informações suficientes”, mas estava ocupada com outros temas e deixei para lá.
No dia seguinte, já na agência, recebi uma newsletter do Meio & Mensagem com a notícia “Mimimi vira dor de cabeça para a Sanofi”e ai fui ver as notícias e o vídeo que tinha gerado tanta polêmica. Fiquei surpresa pelo conteúdo da campanha para internet (relacionando a cólica ao “mimimi”), mas, mais ainda, pelo tempo que levei para realmente acreditar que havia um assunto aí e que não se tratava de apenas mais uma polêmica vazia da rede.
E comecei a questionar: Por que desacreditei na notícia que vi primeiro? Era porque estava no Facebook? A segunda notícia, de um influencer, me pareceu mais crível? As pessoas que não trabalham com comunicação (meu caso) se atentam para esses detalhes? Em qual veículo as pessoas se informam e em qual confiam mais?
Depois disso, o dicionário Oxford elegeu como pós-verdade a palavra que representou 2016. Segundo o dicionário, “pós-verdade” ou “circunstâncias nas quais fatos objetivos são menos influentes para determinar a opinião pública do que apelos a emoções e crenças pessoais” ou seja, as notícias falsas que se espalham com facilidade. O debate tomou força especialmente após a eleição do presidente Donald Trump. Um estudo divulgado pelo site BuzzFeed mostrou que, nos três meses que antecederam as eleições americanas, as 20 notícias falsas mais amplificadas nas redes sociais tiveram engajamento 20% maior (8,7 milhões de curtidas, comentários e compartilhamentos) que as 20 notícias verdadeiras (7,3 milhões).
Foi quando surgiu a ideia de fazer a pesquisa Consumo de Notícias do Brasileiro, realizada em parceria entre a Advice Comunicação Corporativa e a BonusQuest. Foram mais de mil pessoas entrevistadas em todo o País, e a notícia que chama atenção é que 42% admitem já terem compartilhado notícia falsa nas redes sociais. O índice é bem expressivo e preocupante.
Até quem trabalha e vive de comunicação corporativa está sujeito a erros. A mesma pesquisa demonstrou que 45% dos comunicadores já compartilharam notícia falsa, 3 pontos percentuais a mais que a média geral de todos os entrevistados. O compartilhamento de notícias falsas por ambos os públicos preocupa porque demonstra que mesmo uma pessoa habituada com a análise de notícias e treinada para escrever manchetes está sujeita a se enganar, quase que na mesma proporção que as pessoas que não trabalham com o tema. Isso aumenta a relevância da discussão sobre como a informação é distribuída hoje.
Talvez pela agilidade das redes, os frequentadores leiam de forma mais ágil. Outra pesquisa feita pelo site “The Science Post”, nos Estados Unidos, mostrou que 59% dos frequentadores das redes sociais só leem a manchete. O próprio título deste artigo poderia induzir ao erro. A culpa é da Preta Gil ou graças a Preta Gil o tema começou a me chamar atenção a ponto de surgir a ideia da pesquisa? Em comunicação existem escolhas, e, por mais que se queria comunicar com exatidão, a objetividade não existe, dando margem às confusões.
Quando o excesso de informação pode gerar muita dúvida, a fonte ganha relevância para a credibilidade. A pesquisa Consumo de Notícias do Brasileiro mostrou que a grande maioria (78%) utiliza as redes sociais para se informar. Apesar do uso, o índice de credibilidade é o menor entre as mídias. Apenas 6% dos usuários dizem confiar totalmente no que veem na rede, 26% confiam parcialmente e 11% desconfiam totalmente. Com isso, 39% dos respondentes têm o hábito de sempre checar a fonte da informação.
Os jornais, impressos ou online, são utilizados por 82% dos entrevistados. É o mais confiável, com 70% dos participantes indicando a credibilidade desse meio de comunicação, sendo que 24% confiam totalmente. Apenas 2% desconfiam das informações divulgadas pelos jornais.
Os portais de notícias são usados por 90% dos pesquisados. A confiança, nesse caso, é de 65%, sendo que 18% têm total confiança nesse formato de divulgação de notícias e apenas 1% desconfia da veracidade dos fatos retratados nos portais.
Vale lembrar ainda que, em um cenário pós-verdade, é preciso estar especialmente atento ao que se lê e compartilha.