A crise na mídia impressa, as redações enxutas e multiplicinares, a falta de gente e tempo para apurações mais cuidadosas e profundas, as fake news. Mudanças que ocorrem e levam os mais pessimistas a declararem o apocalítico fim do jornalismo. Será? Ainda somos otimistas. OK. São notórios os efeitos devastadores dessa nova era da comunicação. Eles fazem parte do nosso dia a dia e nos entristece (muito!). Mas também acreditamos na força do conteúdo e do poder das novas mídias.
Passada a fase da “adaptação” dos meios mais tradicionais (jornais, revistas e até rádios e TVs) para a internet, iniciativas nativamente digitais vêm conquistando seu espaço, seus leitores e relevância. E o melhor: conseguindo resgatar aquele jornalismo de profundidade que nos surpreende com reportagens exemplares. No dia 27 de outubro, o BuzzFeed – que se apresenta como “empresa líder de mídia digital independente” – publicou a belíssima e emocionante matéria “Fofão da Augusta? Quem me chama assim não me conhece”, nos alimentando de orgulho e esperança.
Utilizando cerca de 11 mil palavras ou mais de 62 mil caracteres com espaço, Chico Felitti revelou a desconhecida história – pelo menos, para nós e outros muitos leitores – de uma figura bastante “famosa” na maior capital do país. De acordo com a própria matéria, o repórter “mergulhou por quatro meses no universo trágico e violento do morador de rua que São Paulo inteira conhece — mas que ninguém sabe quem é”. Ou não sabia até o texto ser publicado e viralizar pelas redes sociais.
Em menos de três dias, na página do BuzzFeed BR no Facebook, o conteúdo ultrapassou a marca de 3,6 mil curtidas e reações e muitos – mas muitos mesmo – comentários, enquanto o post original, publicado na página do BuzzFeed News BR, apontava mais de 1 mil compartilhamentos (e ainda notamos, em nossas redes pessoais, muitos amigos sugerindo a reportagem sem, necessariamente, terem compartilhado as postagens dessas duas páginas). No Twitter, a repercussão também foi grande: mais de 6,2 mil curtidas e 2,1 retweets do conteúdo publicado na página do BuzzFeed News BR. Lembrando que esses números referem-se à repercussão identificada até às 13h do dia 30 de outubro, ou seja, em cerca de 66 horas.
Reportagens como a de Chico Felitti mexem com o orgulho de qualquer jornalista e provoca um olhar diferente para as novas mídias digitais. E o mais importante de tudo! Nesse caso específico possibilita que a gente tenha um olhar diferente para aquela pessoa, com uma aparência marcante, que um dia se aproximou do nosso carro para pedir um trocado. Nessa questão, estamos todos do mesmo lado: de leitores impactados por um conteúdo exemplar!
Menos de dois meses de surpreender a todos com a história de Ricardo, na tarde do dia 16 de dezembro, Chico revela mais um capítulo que encerra essa biografia. Após recuperar a humanidade da personagem central, em sua página no Facebook, o jornalista publicou: “O Ricardo morreu. Como notícia ruim viaja a jato, fico sabendo minutos depois, no meio da madrugada, mesmo a 10 mil quilômetros do hospital do Mandaqui, onde ele estava internado. Fico com a responsabilidade doída de contar para a família e para o amor da vida dele, que ele reencontrou nos últimos dias de vida. Tento não chorar ao telefone. Depois de falhar três vezes, paro de tentar. Dada a notícia, acaba a responsabilidade e fica só um vazio. E uma honra por ter conhecido esse homem nos últimos anos. Uma honra que não é profissional, mas muito humana…”.